Restaurantes iniciam 2017 no
prejuízo
Apesar da previsão de leve
melhora no setor de alimentação fora do lar, o quadro no início deste ano ainda
é preocupante, já que 33% das empresas estão operando no vermelho
Apesar da perspectiva de uma leve
melhora no setor de alimentação fora do lar, o cenário nesse início de ano
ainda é preocupante, já que 33% dos bares e restaurantes entraram em 2017
operando com prejuízo. Para piorar o quadro, uma em cada seis empresas avalia
que não terá condições de se manter no mercado.
O levantamento, realizado pela
Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), sinaliza, na visão do
presidente da entidade, Paulo Solmucci, para uma tendência de uma gradual
melhora. "O percentual de empresas com prejuízo ainda é muito alto, mas o
resultado aponta para um movimento de reversão".
O executivo conta que desde o
quarto trimestre de 2014 (quando o índice estava em 5%) a fatia de companhias
do ramo operando no vermelho cresceu exponencialmente, atingindo seu ápice no
terceiro trimestre do ano passado. Na data, 39% dos estabelecimentos operavam
no prejuízo. Na última pesquisa, referente ao quarto trimestre de 2016, o
movimento começou a modificar, injetando um otimismo moderado no setor.
A expectativa para este ano, por
exemplo, é que a recuperação da rentabilidade das empresas continue. "Até
o final de 2017, se não houver nenhuma mudança drástica de custos, esperamos
que a fatia de companhias operando com prejuízo caia para 20% a 25%",
afirma.
A rede de pizzarias Patroni, com
cerca de 170 restaurantes em operação, é um exemplo da dificuldade imposta pela
crise em conciliar os custos com a receita. De acordo com o fundador da
empresa, Rubens Augusto, a rentabilidade caiu cerca de 50% no ano passado, em
comparação com 2015. "Não tivemos que trabalhar no vermelho, mas
trabalhamos com lucro zero", diz.
O empresário explica que em 2016
houve um aumento muito grande dos custos fixos (custo de ocupação, salários,
contas de água e luz) e uma queda considerável do fluxo de clientes, que na
rede caiu em 4%. Os dois fatores, somados a impossibilidade de aumentar os
preços dos pratos, geraram a queda acentuada na lucratividade. Para este ano,
no entanto, o empresário já espera uma melhora no quadro. "Acreditamos que
parte da rentabilidade conseguimos recuperar, mas o total ainda não",
prevê.
Em termos de faturamento, Augusto
conta que a rede fechou o ano passado com uma queda real de 1,4%, depois de ter
crescido, entre os anos de 2003 a 2014, a uma média anual de 24,5%. "Foi o
pior ano para nós", lamenta.
O empresário aponta, no entanto,
que os dois primeiros meses de 2017 já mostraram uma reação, com uma alta média
de 5% nas vendas. A perspectiva para o consolidado é de um crescimento próximo
de 12%. "Já vemos uma retomada nesse início e no segundo semestre a
tendência é que melhore ainda mais", diz.
Com visão mais conservadora, o
diretor geral da rede de lanchonetes Johnny Rockets, Antônio Augusto de Souza,
afirma que, apesar da perspectiva mais positiva para o ano, a reação do mercado
ainda não veio nos primeiros meses de 2017. Ele conta que no ano passado a
rede, que possui 12 unidades, fechou com uma retração de 20% no faturamento, no
conceito 'mesmas lojas'. Para este ano, a previsão é de alta, mas não o
suficiente para recuperar as perdas do ano passado.
A respeito da lucratividade, o
executivo também afirma que houve uma queda acentuada e, assim como na Patroni,
a redução ficou próxima de 50%. "Agora, nosso objetivo é sobreviver e
estar bem posicionado para quando a economia retomar."
Fechamentos
A preocupação do empresário se dá
em um momento em que cerca de 16% dos bares e restaurantes ainda temem não
sobreviver a crise neste ano, segundo a Abrasel. De acordo com o presidente da
entidade, Solmucci, o ramo passou por ciclos durante a recessão, e agora está
em uma fase em que o número de empresas realmente está diminuindo.
"Primeiro, passamos por um período em que as empresas quebravam, mas eram
substituídas por novos entrantes. A partir do segundo semestre do ano passado,
no entanto, o número de companhias de fato está reduzindo", afirma.
Segundo ele, os fechamentos devem
continuar ocorrendo pelo menos durante o primeiro semestre deste ano. O
presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo
(Ibevar), Claudio Felisoni, concorda e avalia que "este ano vamos
continuar assistindo um número alto de fechamentos de empresas, ainda que a um
ritmo menor do que o visto no ano passado."
Apesar de demonstrar preocupação
com a perspectiva de mais fechamentos de lojas no ano, Solmucci, da Abrasel,
pondera que a diminuição da oferta acaba favorecendo as empresas que se mantém
no mercado. "As que sobreviverem devem se beneficiar do cenário",
finaliza.
Grandes redes
Nesse contexto, as redes de
grande porte, representadas pelo Instituto Foodservice Brasil (IFB), parecem
apresentar um desempenho relativamente superior a média do mercado. Em termos
de faturamento, por exemplo, as 38 redes associadas ao IFB viram uma queda real
de cerca de 1% - frente a uma retração de 3,75% do setor como um todo, segundo
a Abrasel.
"O cenário é ruim para
todos, mas as independentes acabam sofrendo mais, já que não tem a estrutura e
o planejamento que temos", afirma o presidente do instituto, Alexandre
Guerra. De acordo com o executivo, que também é presidente da rede de fast-food
Giraffas, as grandes seguiram investindo em expansão e em melhoria da operação
mesmo durante a recessão, o que favoreceu o resultado.
Para este ano, a perspectiva da
entidade é de um crescimento nominal de 10,9% no faturamento. "Nos últimos
dois anos vimos uma queda acentuada da demanda e uma pressão inflacionária
enorme. Agora, vemos uma reversão: a inflação está caindo e a confiança do
consumidor melhorando", afirma. A Abrasel, por sua vez, prevê uma alta
real de 1,5% para o ramo.
Fonte: DCI