Trânsito, filas, falta de vagas
para estacionar, tempo escasso e a busca por comodidade e praticidade fazem do
Delivery um serviço cada vez mais atraente para o consumidor e,
consequentemente, uma oportunidade para empreender. Mas assim como existe um
cenário favorável para o segmento, administrar esse tipo de operação é um
desafio. Ainda mais em grandes metrópoles como São Paulo. A Associação
Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estima que o mercado de delivery
para alimentação movimentou em torno de R$ 9 bilhões este em 2015, R$ 1 bilhão
a mais que 2014.
De acordo com Caio Gouvêa,
sócio-diretor da GS&MD – Gouvêa de Souza, atualmente existe uma tendência no
comportamento do consumidor em adquirir produtos por meio do canal que lhe for
mais conveniente em uma determinada situação, o chamado omni-channel behavior.
“O serviço de delivery atende perfeitamente a essa expectativa dos consumidores
modernos de se alimentarem com qualidade e na segurança e conforto de seu lar
no momento que lhe for mais conveniente”, afirma.
Já o risco da operação está
justamente em frustrar as expectativas do consumidor com atrasos ou entregar
alimentos fora do padrão esperado e combinado com o cliente previamente.
Por isso, antes de iniciar o
serviço de entregas, é preciso avaliar se a operação será uma atividade
adicional ou a principal parcela do negócio, se os produtos entregues vão
‘canibalizar’ os negócios atuais do restaurante e se os clientes serão os
mesmos. Outros pontos essenciais, segundo Gouvêa, são: preocupar-se com as
condições de transporte para manter a qualidade do produto, estabelecer as
formas de venda e pagamento, determinar os riscos envolvidos e, principalmente,
quais as ações para minimizá-los.
“O Delivery não é só a pizzaria
do bairro. Existe uma oportunidade fantástica e o serviço também tem crescido
pela facilidade do acesso às compras”, diz Clovis Alvarenga Netto, professor da
Fundação Vanzolini. Ele recomenda que o empresário fique atento às mudanças que
ocorrem na cidade para que o negócio contemple novas oportunidades. O aumento
de ciclovias, por exemplo, abre a possibilidade de entregas com bikes.
“A gente só pede pizza e comida
japonesa. Por que vocês não entregam acarajé?” Foi o apelo dos clientes que
motivou Maria Inês dos Santos e a filha Flávia dos Santos Souza a incluírem o
Delivery, há quatro anos, no Acarajé da Inês – hoje a operação representa 25%
do faturamento do negócio. Mesmo localizado na Vila Medeiros, o restaurante faz
entregas em toda a cidade, pelo menos nos fins de semana. Mas quanto mais
longe, maior a taxa do serviço, que varia de R$ 5 a R$ 30. Com a venda média de
150 acarajés por dia, Flávia sonha em espalhar a receita da mãe pela cidade por
meio de franquias. “O acarajé está presente em 98% dos pedidos. Mesmo se alguém
pede uma moqueca, fala: manda também dois acarajés”, conta Flávia.
O administrador Daniel da
Silveira Franco abriu a Saidera Brasil, especializada na entrega de bebidas, há
três anos. A sede fica na zona oeste, mas para atender a cidade toda, ele abriu
a primeira unidade licenciada na zona leste. A Saidera já comprou cinco
operações, entre elas a Breja Boy, que ganhou destaque com entregadores
vestidos de super-herói. “O que tem mais valor é o número do telefone”,
explica. “O mercado não tem barreira de entrada, mas é um negócio complicado,
principalmente por causa da mão de obra e do horário de funcionamento”, diz. “O
nosso maior diferencial foi montar uma estrutura. Conseguimos aliar vida social
mesmo tendo uma empresa que funciona de noite.”
Quando o publicitário Bruno Alves
ainda trabalhava com propaganda, comprar uma refeição saudável para comer no
escritório era algo caro ou passava longe de ser um alimento saudável. Foi a
partir de uma necessidade pessoal que Alves resolveu largar a profissão para
colocar em prática o que fazia há 20 anos: cozinhar. A proposta foi quebrar a
ideia de que a salada não podia ser uma refeição completa e fugir da combinação
alface, tomate e cebola para criar a Eba! Comida Saudável. O carro-chefe do
negócio são as saladas em potes. A operação começou com Delivery e ganhou uma
loja em agosto. A entrega representa de 60% a 70% do faturamento e o empresário
planeja expandir com a instalação de mais pontos de distribuição por São Paulo.
A fila de espera para sentar em
uma mesa no Veloso Bar é de uma hora. Em média. E muitos clientes seguiam até o
local apenas para comprar os dois maiores sucessos do negócio – a coxinha e a
caipirinha – e levá-los para casa. Foi aí que o dono do Veloso, Otávio Canecchio,
resolveu investir R$ 200 mil em uma unidade de Delivery para atender os fãs da
famosa coxinha, presente em 90% dos pedidos. E a caipirinha não ficou de fora
do serviço. “No começo muita gente estranhou a entrega de caipirinha. Fizemos
vários testes e tem dado certo”, conta Canecchio, que chega a realizar 150
entregas aos sábados. O serviço representa 10% do faturamento, mas o empresário
não pensa em expandir a área. Ele segue com a cozinha central no restaurante e
recebendo os pedidos pelo modo tradicional: pelo telefone.
A combinação de todas as
vantagens do Delivery com uma população cada vez mais conectada deixa as
plataformas que reúnem diversos restaurantes para o consumidor fazer o pedido
online animadas. Em vez do restaurante investir na própria ferramenta, empresas,
como hellofood e iFood, oferecem o serviço e cobram uma taxa que oscila entre
10% e 15% da compra.
Do lado do consumidor, os sites
aparecem para substituir os panfletos desatualizados e também reunir diversas
opções em um único lugar. Já para o restaurante, a opção é uma forma do negócio
oferecer o serviço e ganhar clientes por meio do marketing feito pela
plataforma.
“Embora exista uma concorrência
entre plataformas, o que a gente considera como principal concorrente é o
telefone. Nem 5% do mercado está explorado. O grande volume de transações ainda
é feito de maneira offline. O mercado tende a crescer de maneira absurda nos
próximos cinco anos”, afirma Marcelo Ferreira, CEO do hellofood, que tem 2,5
mil estabelecimentos cadastrados e comprou quatro operações semelhantes nos
dois últimos anos.
Já o iFood se juntou ao
RestauranteWeb e também adquiriu quatro operações. “É um modelo de negócio que
exige escala. Existe uma consolidação do mercado e muitos morreram no caminho”,
afirma o CFO do iFood, Carlos Eduardo Moyses, que espera chegar a dez mil
restaurantes cadastrados em 2015.
Para o empreendedor que está na
dúvida sobre o resultado do investimento no serviço, Caio Gouvêa, da GS&MD
– Gouvêa de Souza, aconselha o empresário a fazer uma avaliação da plataforma
(em geral, elas não exigem exclusividade do restaurante), a verificar se há uma
forma de feedback com os clientes e se a operação comporta um aumento de
demanda nos horários de funcionamento do serviço.
Fonte: ESTADÃO PME