Como a dona do sonho mais famoso
do ABC fatura R$ 60 milhões - Empresa familiar de 64 anos já passou por três
gerações, virou rede de franquias e aposta na qualidade para fazer sucesso.
São Paulo – Os famosos saquinhos
azuis dificilmente ficam mais do que cinco minutos em cima do balcão, e tem
sempre alguém perguntando se vai demorar para sair uma nova leva sabor
tradicional ou doce de leite. Muitas vezes, as pessoas ficam com um de cada.
Se você mora no ABC Paulista ou
frequenta as cidades da região, provavelmente já sabe que estamos falando do
sonho da Padaria Brasileira.
A empresa familiar conseguiu se
adaptar às necessidades dos clientes nos últimos 64 anos e se tornou uma rede
de franquias que fatura, hoje, entre 50 e 60 milhões de reais por ano.
Qual a receita disso? Foco na
qualidade e boa gestão, segundo Antônio Afonso Junior, sócio-diretor da
Brasileira. “Nosso modelo de negócio passa por modernizações de tempos em
tempos, mas o objetivo é sempre manter a oferta de produtos de excelente
qualidade.”
A estratégia funciona tão bem que
a Brasileira conseguiu se tornar referência no ABC quando se fala em dois
produtos que são feitos por outras centenas de estabelecimentos na região: o
sonho e a coxinha de frango com Catupiry.
São um verdadeiro sucesso: apenas
em 2016, foram vendidos mais de 1,63 milhão de sonhos e 453 mil unidades de
coxinhas. E eles são apenas dois exemplos dos mais de 2,5 mil produtos vendidos
pela rede.
Gerações
A sede da Brasileira, que fica na
Vila Bastos, em Santo André, foi comprada pelos avós de Junior em 1953. A
padaria passou pela primeira grande reformulação em 1977, quando decidiu
proibir a venda de bebidas alcoólicas e oferecer serviço de rotisserrie,
servindo pratos prontos como carnes, saladas e massas, além de começar a
produzir seu próprio sorvete.
Em 1959, foi a vez dos membros da
segunda geração da família —os pais e tios de Junior— assumirem o controle do
negócio. “Foi quando as pessoas começaram a expandir o hábito de comer fora de
casa, e nossa confeitaria começou a ficar bem conhecida”, diz.
“Entre 1986 e 1987, no Plano
Cruzado, conseguimos conquistar muitos clientes porque não repassamos o ágio do
congelamento de preços. Foi nessa época que eu e meus primos começamos a ajudar
nossos pais a gerir o negócio”, afirma Junior.
Em comum acordo, Junior, sua irmã
e mais quatro primos decidiram comprar a Brasileira dos pais em 1989, assumindo
sozinhos a direção da companhia. “É uma preocupação nossa manter o negócio na
família. Já temos todo o projeto de transição para a quarta geração, nossos
filhos, que deve acontecer daqui alguns anos.”
Lojas
Durante a transição de gestões,
em 1987, foi inaugurada a primeira filial da Brasileira. O local era inusitado:
em um shopping. “Era o primeiro shopping da região, o Mappin (hoje Shopping ABC),
que queria focar em grandes redes varejistas mas também em lojas reconhecidas e
tradicionais do ABC, como a nossa.”
Foi também o primeiro modelo
lançado da Brasileira Express, a rede de franquias da Brasileira. De lá para
cá, a Brasileira abriu mais oito unidades: quatro lojas convencionais e quatro
franquias da Brasileira Express (todas as lojas convencionais e uma franquia
são próprias), inclusive uma fora do ABC, na Rua Augusta, em São Paulo.
“Nós decidimos centralizar a
produção de todas as lojas em nossa fábrica própria, por isso a expansão é um
processo complexo. Além disso, as próprias lojas foram passando por adequações
ao longo do tempo, de acordo com a demanda do público”, diz Junior.
Na Brasileira, o cliente não vai
encontrar apenas produtos de confeitaria, rotisserie e patisserie, mas também
cafés, jornais e produtos de supermercado. “É uma operação complexa. No mesmo
lugar, tem gente comendo pizza, hambúrguer e sopa. É ótimo porque temos
movimento o dia todo, não apenas em um determinado horário”, afirma o
sócio-diretor.
Sonho e coxinha
O cuidado para manter a qualidade
dos produtos é um diferencial da Brasileira. A empresa tem uma equipe de
profissionais, como nutricionistas e técnicos, que constantemente testam novos
processos e receitas para aprimorar a oferta de alimentos.
“Há 15 anos, a gente comprou uma
máquina para automatizar a produção das coxinhas. Demoramos um mês para ajustar
o equipamento para que os produtos não perdessem a qualidade. Deu certo”, diz
Junior.
“A ideia era fazer o mesmo com o
sonho, mas para isso o equipamento precisava de ajustes mais difíceis. Foram
cinco anos em contato com a fabricante até que eles finalmente conseguiram
fazer uma máquina pra gente automatizar a produção dos sonhos sem perder a
qualidade”, completa.
Segundo o sócio-diretor da
Brasileira, o segredo do sucesso dos sonhos, além da receita própria, está na
montagem do alimento. “Os outros lugares primeiro fritam a massa para depois
rechear. Aqui não, a gente monta o sonho com o recheio dentro e fritamos tudo
junto.”
Segundo Junior, os sonhos são
feitos na Brasileira desde a década de 1960 e foram passando por mudanças ao
longo do tempo. “Antes, eles eram grandes, 100/120 gramas. Durante o processo
de modernização da empresa em 1977, decidimos fazer os modelos pequenos, e deu
certo”, conta. Hoje menores, os sonhos são vendidos em saquinhos com dez
unidades.
A fama do quitute é tão grande na
região que a Brasileira tem uma campanha com a APAE (Associação Pais Amigos
Excepcionais Santo André) chamada “Alimente este sonho”. Por duas semanas, a
empresa reverte parte das vendas líquidas dos sonhos para o projeto social.
Modernização
Para manter o crescimento e
enfrentar a crise, os sócios da Brasileira estão atualmente trabalhando na
modernização da rede de franquias da padaria.
“A ideia é trabalhar nas
franquias com o que a gente tem de melhor, que é a padaria. Estamos estudando
tirar o serviço de refeições dessas unidades e focar na montagem de pães
especiais e patisserie. Nos metrôs da Alemanha, por exemplo, eles têm diversas
redes que funcionam dessa forma, e dão certo”, afirma Junior.
No modelo atual, para montar uma
franquia Brasileira Express o franqueado tem que desembolsar pelo menos 550 mil
reais, que incluem a taxa de franquia e instalação. “Esse valor certamente vai
mudar após a modernização. Estamos estudando como disponibilizar os produtos
para os franqueados e focando em um modelo que ofereça lucro não apenas para a
gente, mas para eles também, obviamente. ”
Por Anderson Figo Revista Exame Atualizado
em 6 mar 2017, 10h50